sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crítica: A Estrada (The Road, 2009)

Baseado na obra vencedora do prêmio Pulitzer de Literatura em 2006, do norte-americano Cormac McCarthy (o mesmo de "Onde os Fracos Não Tem Vez"), "A Estrada" é um filme apocalíptico, mas diferente de filmes como 2012, Zumbilândia e Eu Sou a Lenda, trás uma carga dramática mais profunda, não se entregando a grandes efeitos especiais, mas sim, na complexidade de seus personagens.

por Fernando Labanca

O filme já inicia num mundo totalmente devastado, não sabemos o porquê e nem como todo o desastre aconteceu, só sabemos que há poucos sobreviventes, que por sua vez, se alimentam dos poucos que restaram, isso mesmo, de carne humana!! Neste caos, um homem (Viggo Mortenesen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) caminham em direção ao mar, e nesta trajetória, tentam encontrar comida, comida de verdade, já que se recusam a ser como os outros e tentam ao máximo manterem a pouca dignidade que lhe restam, e mais do que isso, da necessidade do pai em mostrar ao filho algo que desapareceu junto com a humanização da sociedade, a bondade.

E na estrada, se deparam com pessoas que perderam completamente a integridade, matam sem piedade, atrás de comida. Ainda encontram seres que caminham sózinhos, como um senhor (Robert Duvall), onde o menino faz de tudo para o pai ajudá-lo, mas ele nega, pois sabe que não há mais como ajudar o próximo. E no meio deste pesadelo sem fim, o homem ainda se prende as poucas lembranças que lhe restam de sua mulher (Charlize Theron) que simplesmente desistiu de viver. E este pai de priva de sofrer, para mostrar ao filho, coragem, mostrar que ele está protegido, e provar que ainda pode haver esperança, mesmo sabendo que só há uma saída para este caos, a morte.

"A Estrada", dirigido por John Hillcoat, é um filme tenso, que nos prende e nos comove desde a primeira cena. E este clima pesado, tenso, é mostrado através de um fundo cinzento, sem cor, sem alma, e só pela fotografia e pelos "cenários" sentimos o vazio, a insegurança, a falta de fé e esperança daquele mundo, se esta era a intensão do diretor, funcionou muito bem.

Assim como explicou o diretor certa vez: "É a dimensão humana que me interessa no espetáculo de destruição", o filme diferente de outros sobre o mesmo tema, se prende mais na complexidade de seus personagens do que na destruição em si, que na verdade, nada mais é que apenas um pano de fundo para se explorar a humanização perdida de uma sociedade perante uma tragédia. E os personagens escritos cumprem este papel, e nos emocionamos com suas jornadas, é claro, que não teria este impacto sem as grandes atuações. O pequeno Kodi Smit-McPhee compreende sua função e vai bem durante toda a projeção, ainda temos a participação marcante e comovente da bela Charlize Theron e um irreconhecível Robert Duvall, brilhante. Destaque para Viggo Mortensen, no papel principal, simplesmente irretocável, impecável, numa atuação memorável, de deixar qualquer surpreso e emocionado.

A mais complexa e impactante versão de um mundo apocalíptico dos últimos tempos, uma mistura de suspense com drama de deixar filmes como "2012" completamente humilhados. Percebi algumas semelhanças com "Ensaio Sobre a Cegueira" de Fernando Meirelles, onde haviam personagens sem nome e que perderam a dignidade e a humanização perante o caos, ambas as obras funcionam bem na tela e surpreendem pelas idéias bastante reflexivas. Enfim, assista, não espere um filme para entretenimento, logo que se trata de um filme bastante denso, numa história pessimista, mas que vale a pena conferir.

NOTA: 9,5

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