quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Crítica: Compramos um Zoológico (We Bought a Zoo, 2011)

Cameron Crowe. Nome por trás de grandes obras do cinema como "Quase Famosos" e "Vanilla Sky", retorna depois de seis anos sem lançar um filme, com a história real de Benjamin Mee, um jornalista que resolveu comprar um zoológico, em formato típico "filme para toda a família", o diretor realiza aqui seu trabalho menos autoral, mas ainda assim, emocionante. 

por Fernando Labanca

Antes de mais nada, sou um admirador do trabalho de Cameron Crowe, aliás, foi o elemento que convenceu a assistir este longa, o vejo como um dos melhores diretores de cinema e seus filmes listam entre os melhores que já vi, fato. Então, sou bastante suspeito para analisar sua obra. Mais uma vez ele trabalha com a comédia dramática se destacando, como sempre, a belíssima trilha sonora, marca registrada em sua filmografia. 

Baseado numa inusitada história real, conhecemos o jornalista Benjamin Mee (Matt Damon), que escreve artigos sobre grandes aventuras, mas passa por um momento delicado em sua vida pessoal, perdeu sua esposa e tem de lidar com o luto e ainda dar força para seus filhos, a pequena e doce Rosie (Maggie Elizabeth Jones) e o adolescente revoltado Dylan (Colin Ford), com quem tem uma relação bastante conturbada. Decidido a ter uma vida nova, recomeçar e tentar encontrar a felicidade em outro lugar, já que tudo a seu redor o lembra sua esposa, enfim encontra um local, a casa perfeita, longe de tudo, o problema é que ela já estava habitada, por animais.

Um zoológico abandonado com mais de 200 espécies selvagens e que só se reergueria com um novo dono, e essa era a condição do local, e sem experiência alguma, Benjamin se torna o dono do zoológico e vendo toda aquela nova situação o ambiente perfeito para se reerguer como pessoa e como pai. Junto com a casa e os animais, havia também um pequeno grupo de trabalhadores, como a zeladora Kelly Foster (Scarlett Johansson) que passa a guiá-lo e a jovem Lily (Elle Fanning), a "menina boba da roça" que se apaixona rapidamente por Dylan, sem saber que a grande vontade dele é dar o fora do lugar. 


Há frases que definem todo um filme, neste caso, uma dita por Benjamin "Tudo o que você precisa é vinte segundos de coragem insana, literalmente vinte segundos, e eu prometo que resultará em algo grandioso". É exatamente sobre isso que Cameron Crowe coloca em discussão, a coragem de se arriscar, seja em algo patético, algo em que todos irão dizer milhões de razões para não fazê-lo, mas faça, se arrisque, uma simples ação corajosa pode dar grandes resultados, gerar muitos frutos, pode salvar toda uma vida. Comprar um zoológico é exatamente o que ninguém sonha em fazer e foi exatamente o que ele fez e foi exatamente o elemento que salvou sua vida. E assim como todos os filmes de Crowe, as lições são valiosas, e você terá vontade de estar com um caderno para anotar os belos diálogos. Além, é claro, de falar sobre a dor da perda e nos mostra com bastante delicadeza esta trajetória de luto das personagens, e emociona sem ser melodramático e sem forçar o público a cair em lágrimas, emociona na dose certa e diferente de filmes como "Reencontrando a Felicidade", aqui, aqueles que perderam quem amava tentam de fato reencontrar a felicidade.

Chegou ao cinema há uma semana e já é conhecido como "filme de férias", aquele filme que agradará toda a família e que daqui alguns anos estará na "Sessão da Tarde". Sim, o que de fato é. No entanto, consegue como poucos filmes ser infantil na medida certa para agradar os mais pequenos, mas ao mesmo tempo sabe ser filosófico e inteligente capaz de agradar os mais adultos, tarefa difícil. Admiro a forma como Cameron guiou o longa, sua infantilidade não incomoda, é um ótimo filme para as férias e quando estiver na sessão da tarde, sem sombra de dúvida, será o melhor da programação. Os animais mostrados provavelmente encantarão os menores, e para minha felicidade não surgem na tela fazendo caras e bocas e agindo de forma humana forçando o humor, surgem de forma natural. Há toda uma atmosfera criada, a vida com animais, a relação homem-natureza, enfim, há todo um belo clima que convence e não soa forçado.

Matt Damon me surpreendeu, construiu um ótimo protagonista, realiza grandes cenas, convence desde sua relação com o irmão, interpretado por Thomas Haden Church, com quem tem boa química, até com os mais pequenos, convenceu como pai, e convenceu como o homem completamente perdido neste cenário. Destaque para uma grande cena, onde ele tem uma dura discussão com seu filho, interpretado por Colin Ford, que também surpreende, cheguei a arrepiar. A pequena Maggie Elizabeth Jones é incrivelmente doce e meiga, tem uma atuação notável, não faz a tipica criança-adulta, e por isso chama mais a atenção. Ainda temos Patrick Fugit, um dos trabalhadores e que fez o alter ego de Cameron Crowe em "Quase Famosos", o que explica sua presença aqui, logo que não faz muita coisa em cena, e a bela Elle Fanning, numa personagem bem diferente do usual, eu diria, gostei da forma como ela fez sua personagem e mesmo não tendo tanto espaço, se destaca (que aliás, provou este ano ter guiado sua carreira bem melhor que sua irmã, Dakota, cada vez mais perdida). E Scarlett Johansson, deixando de lado seu lado mais sexy e praticamente sem maquiagem, aparece mais masculinizada, mas ainda assim, bela, e se sai bem. 

Destaque para a trilha sonora de Jónsi, vocalista da banda islandesa Sigur Rós, elevando e muito o nível do filme, graças a ela, algumas sequências são um verdadeiro espetáculo, vale citar a belíssima canção "Hoppípolla", tocada na cena final. Boa trilha sonora, muito filmes possuem, a diferença é que Cameron Crowe sabe como pouquíssimos cineastas manuseá-las de forma tão competente. O longa peca pela falta de conflitos durante a projeção, há sequências que parecem que nada está realmente acontecendo e também por forçar um relacionamento entre as personagens de Damon e Johansson, o que de fato não há química nenhuma entre eles, teria terminado melhor se terminassem como amigos, teria sido mais maduro e surpreenderia por isso, mas infelizmente se rende ao óbvio, além de tentar ser engraçado em algumas passagens, mas falha, as partes mais dramáticas se destacam. Mas no geral, um filme adorável, bem família, que sabe emocionar e encantar facilmente, devido a trilha sonora e a direção impecável de Cameron Crowe que tem o dom de transformar um simples ato do cotidiano numa cena grandiosa. Há boas intenções, boas frases de efeito e idéias nada inovadoras, entretanto, tão bem realizadas que vale a pena ser admirada. Não é tão bom quanto os outros trabalhos do diretor, mas ainda assim, um trabalho notável. Recomendo.

NOTA: 8





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