Dirigido por Derek
Cianfrance, o mesmo que em 2011 trouxe para as telas o melancólico
“Namorados Para Sempre”, e repetindo a parceria entre ele e o
ator Ryan Gosling, este filme é ainda mais impactante que seu
projeto anterior. E com seu talento em construir personagens tão
humanos, “O Lugar Onde Tudo Termina” surpreende com sua trama
brilhantemente bem escrita, intensa e reflexiva. Um dos melhores
filmes do ano.
Por Fernando Labanca
A obra gira em torno de
um acontecimento que definiu a vida de algumas pessoas, com começo,
meio e fim bem pautados. Um evento que surge por pura ironia do
destino e que as coloca diante uma das outras. “O Lugar Onde Tudo
Termina” narra o momento na vida desses indivíduos em que eles
ficam presos a este acontecimento, um clico que nasce e parece não
ter fim, passando por gerações. Não há,
portanto, um protagonista, são, na verdade, três histórias, três
momentos, o começo, o decorrer e a consequência, e o roteiro muito
bem escrito, as une de forma inesperada, quase como capítulos muito
distintos, mas que não funcionam isoladamente. É como a vida mesmo,
uma trajetória necessitando do impulso de outra para existir.
No primeiro momento,
conhecemos Luke (Ryan Gosling), trabalha como motoqueiro em eventos
esporádicos, até que reencontra com Romina (Eva Mendes), um caso do
passado que logo revela ter tido um filho com ele mas preferiu se
afastar. Para recuperar o tempo perdido como pai, Luke decide
sustentar a família que acreditar ter, larga o emprego e passa a
assaltar bancos. No segundo momento, o policial Avery Cross (Bradley
Cooper) tenta se manter digno diante da corrupção de seus próprios
colegas. Na terceira parte, Jason (Dane Dehaan), um jovem que decide
ir atrás de seu pai no qual nunca teve notícias.
Três vidas que acabam
se cruzando, três vidas distintas que fazem parte de uma mesma
jornada, uma mesma história, e se entrelaçam de forma impactante e
inesperada. Poderia muito bem ter estado entre aquelas histórias de
“Crash- No Limite” de Paul Haggis, pois da mesma forma, narra
este choque entre indivíduos que se não fosse por um evento irônico
do destino, jamais se esbarrariam. No entanto, aqui há um suspense
maior, há um constante clima denso, melancólico, onde os
personagens parecem trilhar sempre pelo caminho mais tortuoso. O
grandioso roteiro também reserva um espaço para momentos
surpreendentes, a maneira como essas vidas se cruzam chega a ser
genial, pois vão muito contra ao que esperamos do filme, ele parece
seguir uma direção e logo após surge uma cena onde tudo se altera.
E para intensificar todas estas brilhantes ideias, Derek Cianfrance,
como diretor, faz de “O Lugar Onde Tudo Termina” uma viagem muito
incrível, onde a maneira como as sequências são montadas,
auxiliado pela ótima edição, fotografia e pela incrível e
delicada trilha sonora, nos faz adentrar a obra, mergulhamos neste
filme que é um furacão de sentimentos, tão complexo e tão belo,
simplesmente memorável.
Os atores se entregam
com força a seus personagens, Bradley Cooper surpreende mais uma vez
como um competente ator dramático, tem uma atuação notável. Ryan
Gosling não se desvincula por total de sua carinha de cão sem dono
mesclado com sua cara de quem comeu e não gostou, mas ainda assim
trás verdade a Luke, convence nos momentos mais fortes e emociona.
Dane Dehaan é uma revelação, um ator jovem bastante promissor e
faz bonito em cena, assim como Eva Mendes, que sinceramente, nunca a
vi tão entregue a um filme, sua passagem é bela e realizada com
muito cuidado e delicadeza pela atriz.
“The Place Beyond The
Pines” é um título um tanto quanto poético e revela muito a
essência da obra. O lugar além dos pinheiros, que literalmente é o lugar onde tudo
termina, e é para lá que seus personagens estão caminhando, ao
fim de uma jornada, de um ciclo. É, na verdade, sobre redenção,
sobre esses indivíduos a procura deste lugar, o lugar que lhes
darão, enfim, uma chance, uma chance de reparar os erros, de seguir
em frente. E a tristeza da obra está justamente no fato de que nem
todos os personagens conseguem chegar lá, que nem todo ciclo aberto
se fecha, nem toda história se conclui. É irônico pensar que a
primeira cena do filme é Luke em sua moto girando num globo da
morte, e como essa sequência tão simples diz tudo sobre a jornada
que os personagens viverão a partir dali. Belo, emocionante e
intenso, um dos filmes mais marcantes do ano. Recomendo.
NOTA: 9,5
País de origem: EUA
Duração: 140 minutos
Elenco: Bradley Cooper, Ryan Gosling, Dane Dehaan, Eva Mendes, Ray Liotta, Rose Byrne
Diretor: Derek Cianfrance
Roteiro: Ben Coccio, Darius Marder, Derek Cianfrance
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