Como todo começo de ano, aqui no Cinemateca, venho postar meu TOP 20 dos melhores filmes do ano que passou, neste caso, 2013. Para muitos, provavelmente não serão realmente os melhores, expresso aqui apenas minha opinião, e sei que ela difere da de muitas pessoas, portanto, deixo um espaço para que comentem, critiquem, deem sugestões e claro, façam suas listas também. O que faço neste TOP 20 é apenas citar aqueles filmes que de alguma forma me marcaram, e que pra mim, foram os melhores, ainda que, confesso, tenha sido muito difícil selecionar apenas vinte, muitos filmes bons ficaram de fora. Por isso, antes de mais nada, para relembrar as obras que passaram por 2013, faço uma breve retrospectiva.
por Fernando Labanca
Pois bem, 2013 acabou, teve coisa ruim mas teve coisa boa também. Como todo ano, a premiação do Oscar dá a grande largada, os ótimos "O Lado Bom da Vida" e "A Hora Mais Escura" foram alguns dos destaques. Teve o retorno morno de Steven Spielberg com "Lincoln" e o musical - com muitas, muitas músicas! - "Os Miseráveis". E também teve o superestimado "Indomável Sonhadora". Entre os indicados, também vimos o europeu "Amor", de Michael Haneke. Por falar em cinema europeu, ele fez sua parte em 2013 e trouxe obras interessantes como os franceses "A Datilógrafa", "A Espuma dos Dias" de Michel Gondry e o polêmico "Azul é a Cor Mais Quente", teve também o dinamarquês "A Caça" de Thomas Vinterberg e um pouco mais perto do Brasil, o México revelou o interessante "Depois de Lúcia". No cinema nacional, dentre tantas comédias destaco apenas a grande surpresa "Minha Mãe é Uma Peça". O nordeste deu suas caras com o elogiado "O Som ao Redor", que particularmente, achei ruim. E...Legião Urbana em "Somos Tão Jovens" e no interessante "Faroeste Caboclo", inspirado na famosa canção da banda.
2013 também marcou o retorno de alguns diretores renomados. Woody Allen, não poderia faltar, e veio com muita força em "Blue Jasmine". Teve Sofia Coppola com seu "Bling Ring", Ron Howard com o empolgante "Rush - No Limite da Emoção", Terrence Mallick no tedioso "Amor Pleno" e o retorno de Pedro Almodóvar com seu fiasco "Amantes Passageiros". Joseph Gordon-Levitt arriscou na direção no estranho "Como Não Perder Essa Mulher" e vimos também o bem-vindo retorno de Robert Zemeckis ao live action com o excelente "O Voo". Lee Daniels fez dobradinha nos cinemas nacionais com os lançamentos do ignorado e interessantíssimo suspense "Obsessão" e o exagerado "O Mordomo da Casa Branca".
Alguns gêneros em decadência ressurgiram em 2013. O suspense e terror ganhou alguns bons exemplares este ano como "Invocação do Mal" e "Mama". A ficção científica também se fez presente com o ótimo "Oblivion", "Depois da Terra" de M.Night Shyamalan e a decepção "Elysium". Teve os grandes sucessos de bilheteria, as sequências "Além da Escuridão - Star Trek", "Thor 2 - Mundo Sombrio", "O Hobbit - A Desolação de Smaug" e "Jogos Vorazes - Em Chamas", e as grandes decepções do ano "Guerra Mundial Z" e "Homem de Ferro 3" Por outro lado, a grande decepção nas vendas: "O Cavaleiro Solitário", que não é de todo ruim. As animações também fizeram bonito em 2013, "Detona Ralph", "Os Croods" e a sequência "Meu Malvado Favorito 2", teve também o retorno de Mike Wasowski e Sulley no ótimo "Universidade Monstros".
Para finalizar: mais uma boa surpresa do diretor Jeff Nichols em "Amor Bandido" e de Paul Greengrass em "Capitão Phillips". Teve o retorno de Joe Wright aos filmes de época em "Anna Karenina" e o retorno do bando de lobos na sequência "Se Beber, Não Case - Parte III". Teve muito bom humor no ágil "Sete Psicopatas e um Shih Tzu", muito ilusionismo em "Truque de Mestre", muito Google em "Os Estagiários", zumbis apaixonados em "Meu Namorado é um Zumbi", as meninas da Disney de biquine em "Spring Breakers" e a história de um viajante no tempo no emocionante "Questão de Tempo", um elenco fantástico em "Álbum de Família" e um elenco bizarro no péssimo "É o Fim".
MENÇÕES HONROSAS: Como disse, fazer a lista foi difícil, alguns filmes muito bons ficaram de fora, por isso, faço aqui as menções honrosas, filmes que não estão no TOP 20, mas que por alguma razão se destacaram. Satirizando com muito estilo o gênero suspense, "O Segredo da Cabana" surpreende por suas ideias, é criativo e extremamente inteligente. Guillermo Del Toro ensinou como se faz um bom blockbuster com "Círculo de Fogo". Dustin Hoffman esbanjou sutileza e delicadeza em "O Quarteto", onde aos seus 75 anos dirige seu primeiro filme, me emocionei pela coragem dele e por tudo o que ele diz com este filme. E a comédia romântica "O Lado Bom da Vida" que por pouco não entrou na lista, é bem filmado, bem intencionado, divertido e trouxe para as telas um dos casais mais interessantes que o gênero viu nos últimos anos.
Lembrando que a ordem é apenas por organização, é difícil enumerar preferências, todos são ótimos filmes e merecedores de destaque. Fazem parte da lista apenas aqueles que foram lançados no Brasil em 2013, independente do ano em que foram lançados no país de origem. Vamos ao TOP 20...
Lembrando que a ordem é apenas por organização, é difícil enumerar preferências, todos são ótimos filmes e merecedores de destaque. Fazem parte da lista apenas aqueles que foram lançados no Brasil em 2013, independente do ano em que foram lançados no país de origem. Vamos ao TOP 20...
20º. Invocação do Mal (The Conjuring)
de James Wan / EUA
"Invocação do Mal" pode não ser "o" melhor, mas com toda a certeza se enquadra na lista "dos melhores filmes de terror" que tivemos a chance de ver nos últimos anos e isso não é exagero, é nítido nos primeiros minutos. Mais do que assustar, criar tensão, o que o diretor James Wan conseguiu aqui, foi construir uma trama sólida bem pensada e bem desenvolvida, com bons personagens e com atores competentes em cena, prontos para oferecer o melhor, além de uma produção cuidadosa que caprichou em cada pequeno detalhe. Filmes de terror geralmente não vão além dos "sustos", finalmente e por isso merece estar entre os melhores de 2013, surge uma obra que respeita o gênero, que respeita o público, que respeita até mesmo os clichês. Também assusta, também oferece tensão, medo, entretanto, vai além, oferece uma história bem contada, um entretenimento de qualidade.
19º. A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty)
de Ben Stiller / EUA
"Ground control to Major Tom", é ao som de David Bowie e sua clássica "Space Oddity" que Walter Mitty começa sua jornada, é a transição daquilo que é sonho para tudo aquilo que é fantástico, porém real. Ben Stiller, conhecido por suas comédias, surpreende pela delicadeza com que comandou esta obra, sobre Walter, este cara tão comum, que sonhava acordado, que fingia ser o herói, o romântico, o corajoso, até que decidiu se arriscar e nisso acabou encontrando a vida. Com uma trilha sonora empolgante e um visual impactante, " A Vida Secreta de Walter Mitty" é daqueles filmes que nos faz pensar nas escolhas que fizemos e principalmente nas que não fizemos, é sobre essa nova sociedade, tão "conectada" ao mundo e tão distante daquilo que é real, é sobre ir além desses "muros" e encontrar pessoas, histórias, encontrar a vida e sentir. Belíssimo em todos os sentidos. Diverte e encanta com suas ideias, ainda que previsível e muitas vezes clichê, merece uma chance, é definitivamente, algo a ser admirado.
18º. Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe)
de William Friedkin / EUA
Uma das grandes surpresas deste ano. Com direção de William Friedkin (O Exorcista), que com seus setenta e sete anos de idade surpreende ao se mostrar tão corajoso neste projeto, um filme que é tudo, menos ordinário. Do bizarro ao teatral, do humor negro ao nonsense, nesta obra tudo parece estar fora do lugar, é exagerado, é incômodo e esta é a genialidade de "Killer Joe", juntar tudo aquilo que poderia dar muito errado, arriscar, ousar em cada sequência, cada diálogo, e fazer dar certo. E deu. E muito. Conta ainda com atuações marcantes de Matthew McConaughey, Gina Gershon, Juno Temple, Emile Hirsch e Thomas Haden Church, que fazem de tudo em cena. Provocativo, ousado, cru e insanamente adorável. Este é "Killer Joe" que fará você ficar remoendo na cabeça seu bizarro final e alguns outros momentos. O filme "wtf" do ano!
17º. A Família Flynn (Being Flynn)
de Paul Weitz / EUA
Com toda a certeza, o filme mais desconhecido da lista. Lançado direto nas locadoras aqui no Brasil, a obra não teve chances com o público brasileiro. Dirigido por Paul Weitz (Um Grande Garoto) vemos na trama o embate entre duas vozes, entre dois escritores fracassados, pai e filho. O pai que se acha um mestre da literatura e o filho que decide contar a história de seu pai, o verdadeiro indigente que é, que o abandonou quando criança. Dois incríveis personagens interpretados com muita força por estes dois grandes atores, Robert De Niro e Paul Dano. O impecável roteiro, tão cuidadoso e tão delicado, constrói uma trama repleta de conflitos, chega a ser denso, complexo, a relação entre estes dois personagens dão à história um tom angustiante, ao mesmo tempo, emocionante, há muito sentimento em cena, há também, muita verdade em cada ação, cada fala.
16º. Detona Ralph (Wreck-It Ralph)
de Rich Moore / EUA
Desde "Enrolados" eu não via uma animação tão boa quanto "Detona Ralph", curiosamente feito também pelo estúdio "Disney". Nos últimos anos tem sido mais raro encontrar este tipo de animação, que é capaz de entreter crianças, jovens e adultos, que tem uma trama bem construída, com bom roteiro, boas ideias, conflitos interessantes e personagens bem construídos. Parece até chatice esperar isso de um filme infantil. E de fato, é. Mas a ótima sensação que permanece ao final de "Detona Ralph" é a prova de que a junção de todos esses elementos tornam o filme muito mais prazeroso, mais envolvente e porque não, mais memorável. Havia tempos também em que o gênero não nos oferecia uma obra tão criativa, cada pequeno detalhe, foi tudo muito bem pensado. O longa possui aquele milagre de nos transportar à infância, é nostálgico e durante seus minutos ficamos presos ao universo apresentado, acreditamos nele. Divertido e surpreendentemente emocionante, inteligente e extremamente original.
15º. O Homem de Aço (Man of Steel)
de Zack Snyder / EUA, Canadá, Reino Unido
Confesso: não sou muito fã de filmes de heróis. E não foi por falta de tentativa. Os últimos filmes da "Marvel" tem sido a prova concreta do quão decadente anda este "gênero". Portanto, não poderia deixar de destacar e colocar entre os melhores que vi este ano, este que me fez ir 2 vezes ao cinema, que me fez ouvir muitas vezes em casa sua incrível trilha sonora e que me fez acreditar um pouco mais nos heróis na tela grande. Zack Snyder, que conquistou o termo "visionário" e não foi a toa. Resgatou "superman" dos últimos fracassos e lhe deu uma chance de ser notado novamente entre os heróis, constrói um filme com muita ação, entretenimento empolgante e ainda assim oferece conteúdo, um texto inteligente e um roteiro bem planejado. Recheado de bons momentos, "O Homem de Aço" é grandioso, alcança sequências épicas e milagrosamente, ainda consegue por alguns instantes, ser poético.
14º. Os Suspeitos (Prisoners)
de Denis Villeneuve / EUA
O que mais me espantou em "Os Suspeitos" foi o fato dele ter conseguido construir um suspense e deixar o público ali, preso, durante seus 146 minutos. É muito tempo. Não há como piscar os olhos ou pensar em outra coisa, é simplesmente de tirar o fôlego. As reviravoltas, as surpresas, os diálogos e toda a tensão que vai se construindo ali em cena, é digno de elogios, conseguir esta proeza e de forma tão bem elaborada é para poucos. Palmas para o diretor Denis Villeneuve e palmas também para este grande elenco, Hugh Jackman se destaca, ele surpreende, sua atuação faz arrepiar. Jake Gyllenhaal, Melissa Leo e Paul Dano são coadjuvantes de peso, é incrível o que todos esses atores realizam em cena. A história é marcante, densa, o jogo entre "quem é vilão, quem é mocinho" funciona e acaba que trazendo grandes reflexões.
13º. A Grande Beleza (La Grande Bellezza)
de Paolo Sorrentino / Itália, França
Vencedor, recentemente, do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, "A Grande Beleza" me surpreendeu bastante. Esperava ver um bom filme italiano. Vi muito mais. Espero realmente que as pessoas sintam o que senti. É diferente de tudo o que já vi, não há uma história acontecendo, não há começo, meio e fim. Há sentimento. Há poesia. É sobre este personagem, boêmio, amante da arte e de Roma, amante das palavras, das histórias e de tudo o que acontece ao seu redor. É incrível como mesmo não acontecendo nada, parece acontecer tanta coisa, o filme prende com seus diálogos tão bem escritos, é pura poesia, poesia que se encaixa em cada singelo momento da rotina, é sobre esta grande beleza que surge dos pequenos detalhes da vida. É também um manifesto contra ao insistente "lero, lero" das pessoas em quererem decifrar o que é arte, o que é beleza, o que é vida. É preciso viver para sentir. As imagens captadas pelo excelente diretor Paolo Sorrentino são de um primor só, somado à bela fotografia e a trilha sonora que faz de cada instante um momento a ser contemplado.
12º. As Sessões (The Sessions)
de Ben Lewin / EUA
"As Sessões" trás como protagonista um homem paraplégico, maravilhosamente bem interpretado por John Hawkes, que vai atrás de sexo, mesmo não sentindo seu corpo, é quando entra em sua vida uma terapeuta do sexo. A relação que surge entre esses dois personagens é mostrada com bastante sensibilidade, tem um tema delicado, mas o bom roteiro faz bom uso de suas ideias, constrói um filme corajoso, ousado, há uma desglamourização do sexo, da nudez, tudo surge de forma crua, natural. É sobre este homem conhecendo mais sobre seu corpo, enfrentando suas limitações, ignorando qualquer tipo de julgamento e sobre esta mulher, conhecendo um pouco mais de si, mais sobre seus sentimentos. Vi muita verdade em cada diálogo e a beleza da obra vem justamente disso, de sua naturalidade, de sua honestidade ao compor estes grandes personagens.
11º. Ferrugem e Osso (De Rouille et d'Os)
de Jacques Audiard / França, Bélgica
"Ferrugem e Osso" é um filme impactante, é daqueles dramas que hipnotizam, não só pela beleza das imagens, pelas caprichadas composições do diretor, mas principalmente por sua história e pelos caminhos surpreendentes que seus personagens vão seguindo. É uma drama violento e sua agressividade acontece na tela de forma literal, possui uma trama complicada, onde há todo instante seus protagonistas estão exteriorizando seus frustrações. A história de dois pontos opostos, ele, um recente lutador, ela, uma ex-treinadora de baleias, agora com pernas amputadas, é deste encontro que ambos passam a aceitar um universo do qual não não faziam parte antes, "Ferrugem e Osso", é também, sobre o processo de humanização desses personagens. É seco, frio, extremamente realista, ainda assim, muito tocante.
10º. O Grande Gatsby (The Great Gatsby)
Baz Luhrmann / Austrália, EUA
Muitos criticaram e sei que para muitos este filme nem estaria aqui. Entretanto não poderia deixar de colocá-lo. Foi um dos melhores ao meu ponto de vista. Sei que no fundo, "O Grande Gatsby" é fruto de uma necessidade de Baz Lurhmann em realizar seu novo "Moulin Rouge", acertando ou não, a verdade é que ele conseguiu construir mais um grande filme. Exagerado, um filme de excessos, Luhrmann vai além de reciclar uma ideia, vai além do "remake", dá um tom único à obra, cria um novo estilo, surge impecável para se tornar uma nova referência. Sim, "O Grande Gatsby" virou referência. É pop, é estiloso, tem personalidade e possui vida em cada sequência, uma bela produção que caprichou nos figurinos e na interessante trilha sonora. Entretanto, seu visual em nenhum momento ofusca suas boas ideias, por trás do exagero, há uma boa história sendo contada, a história de Jay Gatsby e seus sacrifícios pela mulher que ama, a história de uma sociedade tão fascinada pelo dinheiro, é sobre o amargo sonho americano, como consequência, é também a história da decadência. No fim, surpreendentemente, o filme perde sua cor, revela o que realmente é, uma obra melancólica, que diverte em seu início, nos envolve em seu decorrer e emociona ao final.
09º. O Verão da Minha Vida (The Way Way Back)
de Nat Faxon, Jim Rash / EUA
Sem dúvidas, um dos filmes mais gostosos de se ver deste ano. Com seu clima nostálgico e até intimista, esta comédia dramática nos transposta no tempo, é um misto de boas sensações, nos faz imergir novamente à uma época onde as coisas eram mais fáceis, mais simples. É exatamente este sentimento que "O Verão da Minha Vida" desperta, a saudade. Tão difícil de decifrar, tão difícil de entender. É sobre amadurecimento, é sobre o ritual da passagem, deste adolescente prestes a compreender o mundo. Divertido, estiloso, aquele cinema indie que nos faz rir, chorar e e se encantar por cada momento, cada personagem, cada diálogo. Simples, porém extremamente agradável. Com um elenco cativante, é daqueles filmes impossíveis de não se apaixonar, possui um coração enorme, feito para ver, se envolver e rever muitas vezes.
08º. Em Transe (Trance)
de Danny Boyle / Reino Unido
Um hipnotizante thriller psicológico, uma trama que vai sendo construída aos poucos, um conturbado e complexo quebra-cabeça guiado por personagens ambíguos. É um jogo perigoso, violento, complicado, agressivo, "Em Transe" é uma viagem dentro da mente de um homem que aceitou fazer hipnose afim de concluir um roubo, que apenas teria um fim caso ele recuperasse uma lembrança perdida. A partir deste curioso evento, ações surpreendentes vão sendo desencadeadas, revelando aos poucos a verdade sobre este protagonista, a verdade sobre seu misterioso passado e seus sentimentos. Maravilhosamente bem filmado por Danny Boyle, que trás uma obra inteligente, daquelas de fundir a mente, que nos faz duvidar de tudo, calcular cada passo de seus personagens, e ainda assim a trama ficará remoendo em nossa cabeça, muito tempo depois de seu término. Brilhante. Genial.
07º. A Viagem (Cloud Atlas)
de Andy Wachowski, Lana Wachowski, Tom Tykwer / Alemanha, EUA, Hong Kong, Singapura
Considerado por alguns um dos piores do ano, provavelmente muitos até acharão estranho este filme estar por aqui, logo que o odiaram. Sim, não se trata de um filme de fácil digestão. Compreendo aqueles que não gostaram. Entretanto, o que senti ao final de "Cloud Atlas" foi algo muito único neste ano, fiquei parado na poltrona, perplexo, tentando entender o que acabara de acontecer. Havia acontecido um evento, um filme de extrema coragem, onde os diretores envolvidos realizaram o impossível, pode sim ser considerada, uma das obras mais ambiciosas de nosso tempo. Basicamente, é sobre uma ideia e seu legado, pensamentos que sobreviveram no tempo, no passado, presente e futuro. Sorte do público que adentrar a esta trajetória, que sentir cada um dos sentimentos expostos por este maravilhoso roteiro. Espero que seja um longa a ser redescoberto, foi incompreendido, injustamente ignorado, acredito sim que se trate de uma obra a frente de seu tempo, portanto, espero que no futuro compreendam a grandeza que fizeram aqui. Corajoso, ousado, simplesmente fascinante.
06º. Frances Ha (Frances Ha)
de Noah Baumbach / EUA
Frances pode ser aquela moça que você viu hoje de manhã no ônibus. Ela é como qualquer um de nós. Tão perdida, numa constante busca de compreender sua vida, de compreender a si mesma. Durante os minutos deste filme tivemos uma amiga, conhecemos sua jornada, o quão bizarra ela é, conhecemos suas fragilidades, sofremos por suas perdas, rimos de suas mancadas. Noah Baumbach realiza uma obra muito única. Sutil, leve e descontraído, onde tudo acontece com tanta naturalidade que até esquecemos que estamos diante de um filme. Vale pela beleza do preto-e-branco, pela honestidade de cada diálogo e por ver esta atriz tão entregue e tão a vontade, Greta Gerwig. Inovador, original, "Frances Ha" nasceu como um clássico.
05º. O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond The Pines)
de Derek Cianfrance / EUA
Um dos filmes que mais me surpreendeu este ano. Se trata de uma obra impactante, a história de três vidas, em três momentos diferentes, que acabam se entrelaçando de forma inesperada, um ciclo, onde uma jornada acaba definindo a próxima. É sobre o choque causado por esses encontros, sobre as ironias do destino que os conectam. Repleto de boas ideias e reviravoltas surpreendentes, "O Lugar Onde Termina" conta uma direção impecável e atores competentes, e trás uma trama envolvente e hipnotizante. Um filme poderoso, memorável.
04º. Gravidade (Gravity)
de Alfonso Cuarón / EUA, Reino Unido
"Gravidade" é um marco. É daqueles que tem o poder de colocar o público para dentro do filme e de lá não saímos até o final, sem piscar, sem respirar. Foi, sem sombra de dúvidas, a melhor experiência dentro de um cinema que tive em 2013. As imagens, efeitos, sons, tudo fez diferença na tela grande. É uma mistura bem orquestrada de ficção científica e drama, ainda repleto de bons momentos de ação que são de tirar o fôlego. É de se admirar o trabalho do diretor Alfonso Cuarón, ele faz o impossível, constrói uma trama tensa e causa facilmente o interesse, é curioso, é um universo que, de certa forma, desconhecíamos, nunca nenhum filme conseguiu ser tão real e nos colocar tão de perto de tudo aquilo, justamente por isso é tão agonizante, a noção de espaço que ele cria é genial, acaba que sendo mesmo um filme de sensações. Há um bom uso de simbolismos e metáforas, é no fundo, a jornada desta mulher, interpretado com tanta verdade por Sandra Bullock, presa a um universo da qual desconhece, tão fragilizada, tão perto de desistir. "Gravidade" é reflexivo, é visualmente impactante e belo, é emocionante. Difícil de ser esquecido.
03º. Django Livre (Django Unchained)
de Quentin Tarantino / EUA
Toda vez que Quentin Tarantino lança um filme, o público se enche de expectativas. É natural esperar muito deste incrível diretor. E é tão bom quando ele vem e nos entrega um filme à altura das altas expectativas, "Django" é melhor do que esperava, é mais um momento notável nesta brilhante filmografia de Tarantino. Repleto de referências e sequências memoráveis, o filme é uma mistura de riso, comoção e choque. Este é o western spaghetti de Tarantino, com direito a muito sangue e humor sarcástico, com um texto afiado e muito bem escrito e interpretado por grandes atores, Jamies Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio e Samuel L.Jackson surpreendem. Original, inteligente e bastante ousado.
02º. O Mestre (The Master)
de Paul Thomas Anderson / EUA
"O Mestre" é aquele tipo de filme que parece não fazer muito sentido ao seu decorrer e assim que termina. Confesso que fiquei remoendo a obra em minha cabeça, tentando encontrar as razões para não tê-lo odiado e por tê-lo admirado tanto. Não são respostas fáceis. Para alguns, a premissa de "O Mestre" é discutir os primórdios da cientologia, aqui, denominada de "A Causa". O filme discute religião, não de uma forma aprofundada, o roteiro está muito mais interessado nos personagens e a relação que se cria entre eles e a tal doutrina. Conhecemos uma comunidade liderada por este mestre, interpretado magnificamente por Philip Seymour Hoffman, que deseja espalhar "sua palavra", até conhecer Freddie Quell (Joaquin Phoenix), órfão de guerra, alcoólatra, desiludido, fracassado, que acaba encontrando no mestre uma amizade, um lugar seguro, encontra na doutrina a esperança de ter o vazio de sua vida preenchido. Me emocionei intensamente com este personagem, é triste vê-lo vagando no mundo sem nunca encontrar seu lugar e a relação que nasce entre os dois é de uma profundidade e complexidade enorme. Há um clima pesado em "O Mestre", ao mesmo tempo, uma beleza que chega a ser poética, seus personagens são tristes, ao mesmo tempo monstruosos. Paul Thomas Anderson cria aqui, uma obra-prima, ele entrega a cada cena uma razão para ser cinéfilo, para acreditar e admirar a sétima arte, é maravilhoso o resultado final, um filme completo. E Joaquin Phoenix entrega uma atuação antológica, a melhor atuação masculina em anos.
01º. Antes da Meia-Noite (Before Midnight)
Uma história que começou em 1995. A história de Jesse e Celine. Esta é a terceira parte desta belíssima jornada, já tivemos "Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-Sol" e agora, fechando esta incrível trilogia, "Antes da Meia-Noite". Tenho a sensação que esta última parte transcendeu a barreira ficção e realidade, em nenhum momento na história do cinema tivemos essa oportunidade, ver tão de perto um casal, Jesse e Celine são reais. Enfrentamos ao lado deles, o tempo. Conhecemos suas fraquezas, suas lembranças, seus sonhos, a obra expõe a vida, exatamente como ela é, expõe a história de um casal, e ao conhecê-los tão bem, sorrimos com seus diálogos corriqueiros, sofremos por suas brigas, sabemos exatamente do que cada um é feito, nos afeiçoamos, torcemos. E ver ali, os dois, Ethan Hawke e Julie Delpy tão entregues, como isso foi bom. O roteiro desta última parte é primoroso, eles não poderiam ter terminado de melhor forma, acertaram em cheio, os diálogos são fantásticos, é tocante, cada palavra, é impossível não pensar na vida, não refletir. Não poderia ter sido mais brilhante, que grande declaração de amor, a maior e melhor que o cinema viu, vivenciou e sentiu nas últimas décadas. Simplesmente por ter sido tão sincero, tão verdadeiro, logo, tão doloroso, tão emocionante. A ficção nunca imitou a realidade tão bem.
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