terça-feira, 8 de março de 2016

Crítica: A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl, 2015)

Dirigido por Tom Hooper e baseado na premiada obra de David Ebershoff, "A Garota Dinamarquesa" faz um relato emocionante sobre a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. Além da belíssima produção, o filme é, também, o palco perfeito para as grandes atuações de Eddie Redmayne e Alicia Vikander.

por Fernando Labanca

O longa narra a delicada trajetória de Lili Elbe, conhecida como a primeira mulher transexual a realizar a cirurgia. Antes disso, a trama nos mostra o seu despertar, quando ainda vivia como Einar Wegener (Redmayne), um pintor de sucesso e casado com outra artista, a promissora Gerda (Vikander). Entre eventos e exposições, a esposa lhe propõe uma brincadeira, acompanhá-la como sendo Lili, uma suposta prima de Einar, logo que ele já havia sido uma modelo feminina para um de seus quadros. Instigado a vivenciar aquilo, ele acaba levando a ideia a outro nível quando passa a se relacionar com outro homem, encontrando de vez aquilo que estava guardado, compreendendo que sua verdadeira identidade estava além do que seu espelho lhe revelava.


O foco de "A Garota Dinamarquesa" não está, necessariamente, nesta mudança de gênero, mas sim no relacionamento entre Einar e Gerda, em como ele se descobriu e como ela reagiu a suas mudanças. Aliás, por vezes, senti que é ela a verdadeira protagonista da história, é muito mais sobre o seu olhar, sobre o peso que ela sente ao ver seu marido desaparecendo, sobre sua força em superar isso e ser o suporte daquele que tanto ama. É, também, muito sufocante sua trajetória, em como seu amor foi além, em como ela, a todo instante, colocou as necessidade de Einar a frente das suas.  A maneira como é mostrada essa descoberta de Lili, por sua vez, é muito delicada, é convincente justamente pelo poder de Eddie Redmayne como ator e câmera faz questão de mostrar seus trejeitos, a suavidade de suas articulações e a sensibilidade em sua fala, em suas expressões. É extremamente comovente essa jornada de ambos, dele em querer ser o que não pode e dela em não querer perder o que ama.

Mas é claro, como já era anunciado desde o trailer, temos aqui um filme feito para a Academia, para agradar os votantes do Oscar (ainda que não tenha conquistado a principais categorias). Tem o formato e direção que segue a risca o que diz a cartilha, além das atuações fortes dignas de premiação. Tom Hooper que já tem uma estatueta em sua estante por "O Discurso do Rei", retorna com um tema bastante delicado e entrega um produto extremamente plástico, com uma produção caprichada, são cenários, figurinos e maquiagem que de tão belos e bem executados, nos lembram pinturas clássicas, bem enquadradas, fascinantes de observar. Por outro lado, tudo soa muito encenado, quase que teatral. onde por vezes, com sua edição, nem parece que os atores estão no mesmo local, dizem suas falas, desaparecem e o filme segue picotado, tendo sua trama contada às pressas, deixando a sensação de que faltam partes. Senti que tudo ocorreu meio rápido demais, faltou um processo, é neste quesito a grande falha do roteiro, sua noção de tempo, onde tudo soa como se tivesse acontecido durante uma semana. Além da naturalidade e sutileza, faltou à obra, um desenvolvimento melhor desta história que carece de detalhes e uma profundidade maior dos indivíduos retratados.

Da mesma forma que "A Teoria de Tudo" colocou a atuação de Eddie Redmayne a frente de Stephen Hawking, Tom Hooper também opta por focar nos esforços do ator e não exatamente naquilo que ele representa. Redmayne é fantástico e isso é incontestável, porém ele excede, há um exagero cênico que vai muito além do que a personagem precisava. No entanto, compreendo a dificuldade do papel e sei que ele deu o seu melhor e sem dúvidas, se não fosse esse seu esforço o filme não teria o mesmo impacto. Alicia Vikander, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, é grandiosa, corajosa até, é muito forte o que ela realiza aqui, existe comoção em todas as suas falas, é lindo assistir sua performance e a forma como encontra para dar vida a esta incrível coadjuvante protagonista. E sim, "A Garota Dinamarquesa" possui inúmeros defeitos e me senti na obrigação de apontá-los aqui, mas no geral, confesso que gostei do que vi, é um filme que me passou emoção e acredito que tenha sido este seu propósito, tocar aquele aquele que assiste e fazê-lo refletir. É uma obra bastante sensível, é um relato sobre amor, sobre se descobrir e ser capaz de amar a si mesmo, sobre cuidar do próximo e ter a coragem de colocar as necessidades do outro à frente. Belo, delicado e comovente. 

NOTA: 8




País de origem: EUA
Duração: 120 minutos
Distribuidor: Universal Pictures
Diretor: Tom Hooper
Roteiro: Lucinda Coxon
Elenco: Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Matthias Schoenaerts, Amber Heard, Ben Whishaw






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