sábado, 25 de fevereiro de 2012

Crítica: A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2012)

Um dos favoritos ao Oscar 2012, sendo o filme mais indicado do ano, com 11 nomeações ao todo. "A Invenção de Hugo Cabret" é baseado no livro de Brian Selznick e marca o retorno do veterano Martin Scorsese atrás das câmeras, que já guarda em sua prateleira o Globo de Ouro 2012 de Melhor Diretor. O longa registra um grande momento na carreira do diretor, que depois de tantos anos marcado com seus filmes violentos sobre máfia e gangsters, ele, na tentativa de provar a seu público que é capaz de fazer outras coisas e também como forma de realizar uma obra que sua pequena filha pudesse assistir, Scorsese se jogou na fantasia e se permitiu renovar, num filme que nada mais é que uma grande homenagem ao cinema. 

por Fernando Labanca

Somos levados ao século XX, numa estação ferroviária em Paris, década de 30. É lá onde mora Hugo Cabret (Asa Butterfield). Hugo perdeu seu pai (Jude Law) e passou a morar e a trabalhar com seu tio (Ray Winstone) como funcionário da estação, na manutenção dos relógios, mas logo fora abandonado por ele. A única lembrança que guardava de seu pai era um "autômato" velho, que durante um tempo tentaram, juntos, consertá-lo. Agora, sozinho, Hugo acredita que o robô pode trazer uma mensagem de seu falecido pai, é então que o caderno de anotações para o conserto vai parar nas mãos de George (Ben Kingsley), um triste senhor que trabalha numa loja de brinquedos, nisso, o jovem garoto acaba conhecendo sua sobrinha, Isabelle (Chloe Moretz), uma jovem que adora aventuras e passa a ajudar Hugo em sua missão. Até que Hugo Cabret vê no pescoço de sua amiga um colar com uma chave em formato de coração, exatamente aquela que faria seu autômato funcionar. E para a surpresa dos dois, a mensagem deixada pelo robô é uma misteriosa relação entre o pai do garoto, George e a história do cinema.

O George em questão é George Méliès. Considerado um dos precursores do cinema. De mágico e ilusionista, ele utilizou da fotografia e de seus experimentos para realizar sequências de imagens, o primeiro a ter um estúdio, o primeiro a utilizar "efeitos especiais", o primeiro que viu e compreendeu a magia do cinema. Ele morreu pobre e não reconhecido por seu trabalho. A premissa de "Hugo Cabret" é criar este mundo paralelo, onde Méliès, dado como morto na Primeira Guerra Mundial, na verdade trabalha como dono de uma loja na estação de Paris. Essa mesma premissa permite que nós, como público, vejamos uma das mais belas e sinceras homenagens ao cinema, na verdade, nunca havia visto nada como esta homenagem. Com direito a cenas originais de filmes antigos, como o clássico de Méliès, "Viagem à Lua" de 1902, entre outras. Scorsese vai fundo e ainda recria o estúdio do ilusionista, nos mostrando alguns truques de filmagens da época, tudo de forma mágica, sensível, que a todo tempo parece querer provar o porquê de ser conhecida como sétima arte. Martin Scorsese realiza uma grande homenagem, merece reconhecimento por isso e ainda por cima faz o que talvez poucos norte-americanos consigam, reconhecer que algo grandioso tenha sido criado em outro país, no caso, na França.


Por trás da bela homenagem, porém, o roteiro, assinado por John Logan, trás algumas falhas. As inúmeras tramas do filme parecem perdidas na história, sejam as dos coadjuvantes, como as tramas do guarda (Sacha Baron Cohen) e a florista (Emily Mortimer) ou os senhores dos cachorros, onde em nenhum momento o roteiro se esforça para criar um link com o restante do filme ou um verdadeiro motivo para estarem ali, além de preencherem tempo. Até mesmo a trama principal por vezes parece não muito sólida, parece forçado a história do pai morto, que relaciona com um autômato, e depois já estamos falando da história do cinema, como se não houvesse muita ligação entre uma coisa e outra e no final do filme já esquecemos como tudo começou pois nada pereceu ser muito coerente. Pecou também em seu desenvolvimento, onde mesmo com falta de ritmo em muitas passagens, tudo ocorre de forma muito rápida, em um só dia, Isabelle e Hugo se conhecem, se tornam amigos, ele encontra o colar, descobrem o segredo, enfim, quando o dia acaba e as personagens nos revelam que tudo fora um dia, ficamos surpresos. Mas acredito que a grande falha do filme tenha sido o fato de nunca alcançar seu ápice, a fantasia nunca parece tão mágica e tão encantadora, a aventura nunca empolga de verdade, nada que acontece consegue surpreender muito, faltou intensidade nas emoções, faltou atitude, não causa empatia, não sofremos pelas personagens, não nos emocionamos, e tudo no fim parece tão pequeno, os mistérios, os segredos. Dá uma triste sensação de "foi só isso?"

"A Invenção de Hugo Cabret" tem a incrível trilha sonora de Howard Shore, também indicada ao Oscar, merecidamente, as composições são de fato fantásticas. O filme ainda conta com a bela fotografia e um belíssimo figurino de Sandy Powell. Os efeitos especiais são de extrema qualidade, assim como o uso da tecnologia 3D, talvez o melhor desde "Avatar", a profundidade das cenas é nítida e faz diferença, Scorsese usando e ousando nos efeitos para o bem de sua obra.

Dentre os atores, todos ótimos. Desde os protagonistas mirins Asa Butterfield e Chloe Moretz aos veteranos Ben Kingsley, impecável e Helen McCrory. Sacha Baron Cohen trazendo humor, mas de forma mais limitada, ainda temos a sempre doce Emily Mortimer, que apesar de inútil na trama é sempre bom vê-la. Christopher Lee também está lá, numa personagem incógnita, mas correto. Além de participações de Jude Law e de Ray Winstone.

Um filme belo, que funciona perfeitamente como homenagem à história do cinema, que nos faz voltar ao tempo e nos relembra o porquê desta arte ser tão mágica e assim como Hugo fora ensinado por seu pai, o cinema é aquele lugar onde os homens podem sonhar ao meio do dia. Entretanto, por trás da homenagem existem as falhas de um roteiro bem intencionado, mas de idéias pequenas, limitado, onde há vários elementos em cena e em nenhum momento se esforça para uní-los, com direito a subtramas desnecessárias e personagens descartáveis. Foi vendido como filme de aventura, não é. Foi vendido como filme para a família, não é. As crianças provavelmente detestarão, pelo menos foi o que ocorreu enquanto estava na sala do cinema e dei razão a elas. Não teria gostado se fosse criança. O que então, não justifica os momentos infantilizados. É um filme para adultos, mais especificamente aqueles que admiram o cinema. É para poucos. Quem não se interessa pela história da sétima arte dificilmente encontrará outro motivo para querer chegar a seu fim. É inteligente, bem realizado, mas acredito que não tenha alcançado muito bem sua proposta. 

NOTA: 7,5


Um comentário:

  1. Dou 10 para esse filme sem fazer favor. É uma obra prima do cinema.

    ResponderExcluir

Deixe um comentário #NuncaTePediNada

Outras notícias