quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Crítica: Sob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate, 2004)

Remake da obra de John Frankenheimer de 1962, este novo longa tem a direção de Jonathan Demme, conhecido por dirigir o clássico “O Silêncio dos Inocentes” e tem em seu elenco, nos papéis principais, Denzel Washington, Meryl Streep e Liev Schreiber. O filme é surpreendente e se firma como um dos melhores thrillers políticos dos últimos anos. 

Por Fernando Labanca

Guerra do Golfo, soldados norte-americanos acabam caindo numa emboscada, mas todos são salvos pelo ato corajoso do sargento Raymond Shaw, que acaba ganhando uma medalha de honra. Anos depois do acontecimento, Raymond ainda vive sob o prestígio de seu passado, é filho de uma famosa senadora (Meryl Streep) que o colocou, representando seu partido, como candidato a vice-presidente. Por outro lado, o Major Ben Marco (Washington) vive assombrado por pesadelos, sempre se deparando com uma cena, onde ele e seus soldados passam por uma lavagem cerebral, o que acaba o intrigando, pois nunca conseguiu se lembrar exatamente como aquela emboscada terminou. Decidido a encontrar respostas sobre o passado e entender se tudo isso é paranoia sua ou uma lembrança recuperada, Ben começa a perseguir Raymond, pronto para provar que sua teoria é real e que todos são vítimas de uma das maiores conspirações políticas da história norte-americana. 


A verdade é que pouco ouvi falar sobre este filme, não tinha expectativa alguma sobre ele e mal imaginava do que se tratava, por isso me surpreendi tanto, porque sem esperar nada, me deparei com uma obra grandiosa, extremamente bem realizada por este experiente diretor, Jonathan Demme, que sabe muito bem como conduzir um bom suspense, que fisga seu público desde o início, me senti hipnotizado, como havia tempo em que não ficava em algum filme do gênero. Há um clima pesado e sombrio em “Sob o Domínio do Mal”, Demme dá outra forma para o medo, ele está presente nos olhares, nos diálogos e na maneira com que cada cena é montada, nos entregando uma obra perturbadora, realista mesmo se tratando de uma trama um tanto quanto fantasiosa, mas é tudo muito sério e vejo isso como o maior trunfo da obra, ter se levado a sério, por mais absurda que seja sua ideia, o roteiro acredita nelas e como consequência, nós, acreditamos também. 

Se no filme original de 62, a trama girava em torno da Guerra Fria, os roteiristas aqui, souberam muito bem trazer seus conflitos e mistérios para outro cenário, a Guerra do Golfo, além de mostrar de forma bastante interessante os bastidores da política numa época de eleições, ambiente perfeito para relatarem com inteligência esta paranoia norte-americana e neste clima de incertezas inserem seus personagens, onde nunca sabemos ao certo quem são, o que realmente fizeram, o que é real ou o que não é. E se utilizando do termo “Síndrome do Golfo” é onde paira a dúvida sobre seu protagonista, seria ele um lunático, perturbado pelos tempos de guerra, ou realmente o mundo não é exatamente como todos pensam? E numa trama surrealista, nos deparamos com sequências chocantes, que nos fazem ficar refletindo muito tempo depois que o filme acabou, toda esta história de lavagem cerebral, pode até parecer um pouco bizarra no início, mas é tudo tão bem guiado pelos roteiristas e diretor, que por fim, tudo se encaixa, faz sentido, e devido a isso, “Sob o Domínio do Mal” se torna tão assustador, por mais surreal que seja, é inevitável não ligar a trama complexa do filme com o que foi a política ao longo dos anos, vemos uma teoria de conspiração tão detalhada que estranhamente duvidamos da realidade. 
 
Denzel Washington está ótimo no papel de Ben Marco, sua paranoia, seu desespero pela verdade, é tudo muito convincente, é mais um bom momento na carreira do ator. Podemos dizer o mesmo para a veterana Meryl Streep, que quando achava que já tinha visto de tudo por ela, me deparo com mais uma grandiosa e espetacular interpretação, é memorável o que a atriz realiza em cena, seus longos discursos chegam a arrepiar, e a relação de sua personagem com seu filho, interpretado pelo também ótimo Liev Schreiber, é tão complexa e ao mesmo tempo assustadora. No elenco ainda vemos coadjuvantes de peso, como Jeffrey Wright, em aparição rápida mas muito eficiente, Kimberly Elise, carismática e muito boa, Jon Voight e Vera Farmiga. 

Apesar de ter quase dez anos desde seu lançamento, “Sob o Domínio do Mal” parece não ter sido descoberto ainda, espero que um dia seja, que seja também apreciado, é uma obra genial, extremamente relevante para o gênero, um thriller político raro, um dos melhores que já vi, ágil, com diálogos fortes, um roteiro muito bem desenvolvido, repleto de reviravoltas surpreendentes e sequências impactantes que ficarão na memória. Um suspense hipnotizante, perturbador, inteligente, que surge com tantas ideias, teorias complexas, que farão muitos pararem para pensar, duvidar da própria realidade. Recomendo.

NOTA: 9,5



4 comentários:

  1. Fantasiosa? Absurda??

    Só se você nunca leu nada sobre controle mental MK Ultra pra achar que isso nao existe rsrs

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  2. Vejam "BZ - Viagem alucinante". Tim Robbins brilhante!

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