quinta-feira, 1 de abril de 2010

Crítica: Ilha do Medo (Shutter Island, 2010)


Voltando um pouco as raízes, Martin Scorsese retorna ao suspense, provando que ainda há a possibilidade de se fazer bons filmes do gênero, logo que hoje, isso é uma raridade!

por Fernando Labanca

Depois dos bem sucedidos e também elogiados O Aviador e Os Infiltrados, Scorsese resolve mudar, alternando seu estilo que foi usado há alguns anos atrás em filmes como Cabo do Medo de 1991. E o gênero suspense agradece a escolha do diretor, que revitaliza o que está quase perdido. Logo quando o filme começa percebemos que não é de um diretor qualquer, mas sim, de um diretor experiente que sabe o que faz. Entretanto, mesmo mudando um pouco de estilo, ele ainda tem um "ás" na mão, um elemento que esteve presente em seus trabalhos anteriores, Leonardo DiCaprio.

No filme, dois detetives, Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) se conhecem no mesmo dia em que estão prestes a desvendar um mistério. Ano de 1954, Shutter Island é um sanatório que abriga os piores tipos de loucos, aqueles que devido a alguma doença mental, mataram pessoas e precisam de um forte tratamento. Porém, misteriosamente, uma das pacientes some, é quando entram em cena os dois detetives. Um lugar sombrio, no meio do Oceano, os dois estão sózinhos, não podem entrar com armas e precisam respeitar as regras do local, logo são apresentados a Dr.John Crawley (Ben Kingsley), um médico que não vê as pessoas abrigadas como loucos e sim como pacientes, pessoas que necessitam de ajuda e não compreende a fuga de Rachel Solano (Emily Mortimer). Os detetives passam a entrevistar os médicos, as enfermeiras e até mesmo os "pacientes" para entender como ela fugiu, logo que se há uma maneira disso acontecer, é um caso de alerta, pois são perigosos, ela por exemplo, matou os dois filhos e o marido e age como se nada tivesse acontecido.

Conforme os dias vão passando, Teddy vai revelando suas verdadeiras intenções, que o caso não passa de um pretexto para ele infiltrar em Shutter Island. Há alguns anos atrás, Teddy perdeu a mulher que amava, Dolores (Michelle Williams), em um incêndio provocado por um homem com problemas mentais e que foi levado para o sanatório, e ele com sede de vingança, decide ir até o local se vingar do homem que lhe tirou os motivos para querer viver. E mais do que isso, Teddy Daniels sabia de algumas hipóteses de que em Shutter Island, os médicos faziam experimentos radicais, usando medicamentos ilegais nos pacientes e ele queria ir atrás de provas para poder fechar os portões do local. Mas nada seria fácil, e os detetives começam a questionar as leis, os métodos, passam a ser perseguidos, e ambos entram num terrível jogo de alucinações, onde nada é exatamente o que parece ser.

Martin Scorsese realiza um belíssmo trabalho, utilizando elementos fantásticos que fazem Ilha do Medo ser um dos melhores filmes de suspense dos últimos anos. A trilha sonora bem colocada nas cenas, hipnotizando o público mesmo quando não acontece nada, os cenários, tudo muito sombrio, o filme tem um clima pesado e interessante para o gênero. Desde O Orfanato ( de Juan Antonio Bayona, 2007) não via um filme de suspense ser tão bem realizado.

O elenco é um dos pontos mais positivos do filme. Leonardo DiCaprio há um bom tempo ele vem acertando no cinema, fazendo não só incríveis filmes, mas também acertando em sua brilhante atuação e em Ilha do Medo não é diferente, sendo essa, uma de suas melhores performances. Mark Ruffalo não alcança o nível que DiCaprio atingiu, mas fez um bom trabalho, como sempre. Ben Kingsley tem uma personagem interessante, fazia tempo que não o via tão bem, uma atuação linar, mas irretocável. Destaque também para as participações femininas, Emily Mortimer está fantástica, melhor do que nunca, assim como Michelle Williams, se despreendendo por total de Dawson's Creek e se tornando uma atriz exemplar. Palmas principalmente para a veterana Patricia Clarkson e para Jackie Earle Haley, ambos participam de apenas uma cena, mas com atuações arrebatadoras, irreconhecíveis, brilhantes.


Entretanto, encontrei um defeito que me incomodou em várias sequências, a edição. Não é possível que não repararam nos erros de sequência antes de finalizarem o filme, chega ao extremo, até eu que não sou muito de reparar nisso fiquei irritado. Sabe aquele tipo de cena, que quando o ator é filmado de frente está em uma posição, mas quando é filmado de costas está em outra, completamente diferente, pois é, isso tem de monte.

Ilha do Medo, tem sim seus defeitos, mas perante a tantos fiascos no gênero suspense, acaba sendo uma raridade. É diferente quando um diretor experiente arrisca em algo que tem tudo a perder, sabe o que faz e tudo é conduzido muito bem. Vemos ainda atores competentes dando tudo de si, o que não vemos muito isso em filmes desse tipo. Não é preciso fantasmas e nem violência gratuita, muito menos coisas nojentas ( o que se tornou hábito em filmes do gênero, para muitos, ver um corpo sendo triturado com muito sangue a mostra é o novo terror). Um filme inteligente, com um roteiro brilhante e cheio de reviravoltas, suspresas boas não faltam em Ilha do Medo, e para fechar com chave de ouro, ainda vemos um final chocante e surpreendente.


NOTA: 8.5


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