Um dos filmes mais comentados do ano, até agora, "Rio", animação dos mesmos criadores de "A Era do Gelo", trás novamente o brasileiro Carlos Saldanha como diretor, responsável pelos dois últimos capítulos da saga.
por Fernando Labanca
No filme, conhecemos a jornada da arara Blue. Foi capturado quando recém-nascido nas florestas do Rio e levado para um lugar muito distante, por um incidente, acaba caindo no meio do trajeto e parando em Minesota, Estados Unidos. É encontrado por Linda, uma garotinha que o leva para casa e o cuida como um animal de estimação. Os anos se passam e com ela, Blue conhece os mimos de sua dona e o conforto de se viver entre quatro paredes. Até que certo dia, surge o brasileiro Tulio, especialista em cuidados de aves, viaja a procura de Blue, a única arara azul macho restante da fauna do Brasil e como ele havia encontrado a fêmea, tenta levá-lo ao Rio para que a espécie procrie novamente.
Depois de muita insistência, Linda aceita e viaja ao lado de Blue e Tulio para o Rio. Blue, asssustado com sua nova realidade tem de encarar seu futuro, um encontro marcado. Enfim, conhece Jade, a única restante de sua espécie, mas a arara não é tão fácil de domar e no instante em que deveriam se conhecer, eles são raptados pelo jovem Fernando, um garoto sem pais e que vive nas favelas do Rio, manipulado por uma gangue especializada em tráfico de animais. Então, Jade e Blue tentam a todo custo fugir, mas as coisas dificultam, quando ele revela que não sabe voar, e para piorar a situação tem uma terrível cacatua na cola das araras.
Eis que eles conseguem fugir, e Blue parte em uma interminável busca pelo sua dona, e Linda por sua vez, ao lado de Tulio tenta reencontrar seu grande amigo perdido. E nesta jornada, Blue vai conhecer animais exóticos, vai se deparar com as maravilhas deste país, conhecer um pouco da cultura deste povo e mesmo que deixou de ter a obrigação de se envolver com Jade, Blue não desiste de tentar conquistá-la.
Para começar, minhas expectativas quanto a "Rio" eram grandes, pensei que enfim um filme iria levar uma boa imagem do Brasil para o exterior, que sempre se limitou a mostrar as favelas, violência, samba, carnaval e futebol, sim, estes elementos existem, mas o Brasil vai muito além de "só" isto. Ainda mais contando com um brasileiro como diretor, era quase inevitável pensar que ele mostraria algo a mais de nosso país. Mas infelizmente não, Carlos Saldanha reúne todos os estereótipos possíveis do Brasil e não altera em nada nossa imagem. Sambra, carnaval, futebol, mulata com bunda grande, pessoas que não se importam tanto com o trabalho (contanto que no final do dia eles sambem), com direito a um segurança que por baixo de seu uniforme, há uma fantasia de carnaval!!! Somado a tudo isso, o tráfico de animais e a naturalidade como as pessoas encaram as coisas ilegais. Seria muita hipocrisia dizer que nada disto existe, mas o roteiro não se esforça para levantar novas possibilidades, mostrar outros lados, nossa música, por exemplo, vai muito além do samba e "olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...". O "jeitinho brasileiro" de ser, vai muito mais além do que só querer se dar bem pelas custas dos outros, vai mais além do que só querer sambar no final do dia. Isto não é o Brasil, mas sim uma imagem mal feita já criada e Carlos Saldanha, como um carioca e como diretor do filme, faz permanecer.
Como idealizador de tudo isso, Saldanha peca, e como diretor...também. "Rio" carrega os mesmos defeitos que ele cometeu na saga "A Era do Gelo", onde o original se encaixa no grupo das melhores animações já feitas, mas quando ele entrou no comando, dirigindo as continuações, fez as aventuras de Sid, Diego e Manfred derrapar feio, principalmente na segunda parte. "Rio" não possui um bom ritmo, uma história arrastada, cheio de diálogos desnecessários, que tentam a todo custo ser engraçados, mas não conseguem. O humor é fraco e no máximo que consegue é arrancar algumas risadinhas, tudo muito sem sal. O filme é mais aventura que comédia, entretanto, nem a aventura empolga. Há personagens até carismáticos, mas falta história para cada um deles, faltou desenvolver uma empatia entre o público e eles, nem mesmo por Jade e Blue, não há aquela química de casal mesmo. Blue é até engraçadinho e certos momentos dá até dó dele, mas como protagonista, precisava de mais. Sua relação com Linda é uma das poucas que convensem, ela por sua vez, é uma das poucas que me despertou certo carisma.
O roteiro também é fraco, parece uma costura mal feita de tantas outras animações já feitas. Blue, tem um pouco de um "Happy Feet" que sapateia e não canta, no caso da arara que deveria voar, mas não voa. Aliás, isto de não voar tenho a sensação de já ter visto em outro lugar. Ainda há nele um pouco dos animais de Madagascar que saíram do conforto de um zoológico para encarar a floresta real. Há macacos espertos que sabem manusear equipamentos tecnológicos, lembrando um pouco os pingüins de Madagascar também. Enfim, há um pouco de tudo, a todo momento tive a sensação de já ter visto, o roteiro não cria nada, absolutamente nada de novo, até mesmo os vilões caricatos ao extermos estão lá, e sem contar os dois capangas atrapalhados. Clichês atrás de clichês.
O que resta de bom em "Rio" e é por ele que vale a pena, é o visual. Animação riquíssima em detalhes, tudo em perfeito estado, as cores, tudo muito Brasil, a equipe de animadores conseguiram com extrema competência, traspor para a tela imagens belíssimas, passando pelo Corcovado por belos ângulos e ainda uma sequência de tirar o chapéu onde os personagens vão parar no Sambódromo, onde estava ocorrendo um desfile de samba. Cada detalhe, as fantasias, a música, as cores dos desfiles que vemos a todo ano, estão lá, muito bem representados.
Vale lembrar que "Rio" está conseguindo bastante críticas positivas, e muita gente vem curtindo a aventura de Blue. Então não vou dizer nada parecido com "Passem longe", dá para arriscar, cada um tem seu gosto e tem muita gente gostando. Adoro animações e filmes infantis, não perco um, mas "Rio", infelizmente foi muito abaixo de minhas expectativas, vale pelo visual, nada a mais.
NOTA: 5
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