segunda-feira, 16 de maio de 2016

Crítica: A Juventude (Youth, 2015)

Paolo Sorrentino, que venceu há dois anos atrás o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com sua obra-prima "A Grande Beleza", retorna com mais um irretocável trabalho, ainda repleto de poderosas imagens e sensações.

por Fernando Labanca

É inevitável assistir "A Juventude" e não fazer logo esta associação com seu filme anterior. Sorrentino realiza aqui quase que uma versão americanizada de "A Grande Beleza", que aliás, o vendo dessa forma pode até soar como algo negativo, no entanto, quem ganha com este seu retorno e com esta repetição de maneirismos visuais e narrativos é o público. A trama e a composição dos personagens são completamente diferentes e por isso ver o cinema deste talentoso diretor italiano continua sendo uma experiência muito única, apesar das semelhanças, continua sendo um cinema raro, digno de admiração, de contemplação.



“Você diz que emoções são superestimadas. 
Mas isso é besteira. Emoções são tudo o que temos”


Michael Caine dá vida à Fred, um compositor e maestro aposentado que não mais encontra na vida alguma inspiração para seguir em frente, muito menos para continuar seu trabalho. Sua existência se encontra em um verdadeiro limbo e sem nenhum plano em mente, passa suas férias em um luxuoso hotel europeu ao lado de sua filha (Rachel Weisz). No local, Fred vê suas horas passando enquanto troca ideias e pensamentos com seu antigo amigo Mick (Harvey Keitel), um cineasta que está prestes a filmar seu último grande filme e Jimmy (Paul Dano), um ator frustrado. É ali que lembranças da juventude de Fred retornam, o fazendo questionar sobre as escolhas de seu passado e os rumos de seu futuro.

Existe em toda a construção de "Youth" uma deliciosa aleatoriedade. Parece não existir roteiro ou uma linha narrativa que faça algum sentido. Existe o lugar e existem os personagens e é somente isso que importa, o resto é poesia, o resto é pensamento, é sentimento, o resto cabe a nós, como público, decidir o que absorver de tudo aquilo. É pura arte o que vemos, não só pelo cuidado e maestria com que Paolo Sorrentino manipula suas imagens, mas colocar ali em cena indivíduos confinados e discutindo sobre aquilo que os movem, ou o que um dia os inspirou. O cinema, a música e até mesmo o esporte definiu o rumo de suas vidas, no entanto, a trama consegue retirar todo o glamour de se viver entregue a essas profissões, seja do compositor desmotivado, do ator que rejeita sua fama, da atriz que envelheceu e vê o cinema como um negócio decadente, do jogador que perdeu sua forma e seu fôlego. Há algo de muito melancólico presente em cada personagem, como se a juventude tivesse marcado o auge de tudo, da força, da paixão, e o tempo foi destruindo tudo isso.

Também vejo a obra como um agradecimento por essas lendas vivas da sétima arte. Sim, envelhecer no cinema nunca foi justo, atores perdem espaço, perdem chances e somem. Parece um presente à Michael Caine, Harvey Keitel e a Jane Fonda, onde Sorrentino lhes entrega um papel à altura de seus talentos, quase como um obrigado pela carreira que construíram. E no meio deles, dois atores gigantes, por vezes subestimados e que merecem atenção, Rachel Weisz e Paul Dano. Que incrível poder ver este elenco em atividade, poder ver esses atores contracenando e entregando alma a um texto tão rico, tão belo. Termino dizendo que adoraria ser um expert em palavras para poder escolher as melhores para descrever este filme, porque faltam no meu curto vocabulário. Paolo Sorrentino entrega mais uma obra de arte, algo que quase nunca se vê, é lindo em todos os sentidos, desde sua incrível canção original indicada ao Oscar, até a composição de suas cenas, tão bem montadas, tão poderosas, onde por vezes, o diretor opta por deixar sua câmera estática, deixando as imagens dizerem por si. Um trabalho deslumbrante, vibrante, inspirador.

NOTA: 9




País de origem: EUA, Itália
Duração: 118 minutos
Distribuidor: Fênix Filmes
Diretor: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino
Elenco: Michael Caine, Harvey Keitel, Paul Dano, Rachel Weisz, Jane Fonda







Um comentário:

  1. O filme vale a pena assistir, adorei a história. Quando vi o elenco de Despedida em grande estilo, automaticamente escrevi nos filmes que deveria ver porque o elenco é realmente de grande qualidade, ancho que é umo dos mais divertidos, eu adoro Michael Caine filmes, éste é um dos meus preferidos, por que sempre leva o seu personagem ao nível mais alto da interpretação, seu trabalho é dos melhores. Eu ri muito

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