quinta-feira, 3 de março de 2016

Crítica: O Quarto de Jack (Room, 2015)

Baseado na obra de Emma Donoghue, "O Quarto de Jack" é um drama arrebatador, com trama e atuações poderosas. É mais um daqueles filmes especiais, que nos faz sentir bem por tê-lo encontrado.

por Fernando Labanca

Roteirizado pela própria autora do livro e dirigido por Lenny Abrahamson, que ano passado já havia nos entregado o excelente "Frank", "O Quarto de Jack" narra a história de Joy (Brie Larson) e seu filho Jack (Jacob Tremblay) de apenas cinco anos. Ambos vivem isolados em um quarto e o único contato com o mundo exterior é com o Velho Nick (Sean Bridgers) que os mantém em cativeiro. O filho, por sua vez, é um espirituoso menino que jamais soube o que havia do lado de fora, além de sua imaginação e além do que ele via em uma pequena TV. Até que, desgastada daquela realidade e decidida a oferecer uma chance de vida à Jack, Joy desenvolve um arriscado plano de fuga.  

"O Quarto de Jack" tem o poder de nos fisgar em seus primeiros minutos. Acontece uma identificação rápida e quando menos esperamos já sentimos uma grande afeição aos indivíduos ali retratados e ao mundo em que vivem. O quarto do título, funciona quase como um personagem ali dentro, é ele quem define do que os protagonistas são feitos, é nele que habitam seus traumas, seus receios e principalmente a imaginação de Jack ou tudo o que ele acredita ser real. Narrado pelo garoto, a grande beleza da obra está neste seu olhar, que vê o caos com bons olhos, que acredita na magia e nos milagres, que aceita sua vida como sendo um universo imenso e repleto de possibilidades guardado dentro de uma caixa. É curioso quando começamos a ver o mundo a sua maneira, em como é difícil compreender o que é real e o que não é, e assim como ele, até certo ponto da trama, também não sabemos como é a vida do lado de fora. Por causa desta inocência de Jack, a obra ainda nos presenteia com cenas de extrema delicadeza, é tudo muito simples, mas é justamente esta ingenuidade que faz do filme tão especial, tão belo.


"- Você vai amar.
- O quê?
- O mundo."

Filmado com tanta sensibilidade por Lenny Abrahamson, encontramos algo tocante e mesmo que focado na doce visão de um menino, não deixa de ser um drama forte, doloroso. Prova disso é a catártica sequência da fuga, incrivelmente montada, que desperta tantos sentimentos. O desespero daquela situação somado ao medo e a incerteza do que serão suas vidas é desesperador. Joy, também, é uma personagem que carrega uma carga dramática muito densa, onde jamais saberemos o que é estar em sua pele e o que exatamente ocorre em sua mente. E este encontro da mãe e do filho é incrível, dela que sabe demais e sofre por sentir o peso de estar viva, jamais aceitando sua realidade. E Jack que pouco sabe, no entanto, para ele tudo é muito claro, tudo faz sentido, é apenas a vida acontecendo, é ele envelhecendo e descobrindo novas possibilidades. Joy é o suporte e a fraqueza, Jack é a força motriz, é o que a inspira. É muito convincente as ações dos dois, acreditamos naquele universo e no comportamento tão distinto que cada um passa a ter. É tudo muito real, é muito humano.

Brie Larson, que recentemente venceu o Oscar por sua atuação, possui um poder estrondoso, é magnífico sua composição, é simplesmente hipnotizante vê-la em cena, no entanto, para minha surpresa, é o jovem Jacob Tremblay quem segura o filme, fazia tempo que não via algo protagonizado por uma criança ser tão incrível, tão bom de assistir. Suas narrações, seu jeito doce de falar e sua naturalidade em cena são provas de seu enorme talento, fiquei perplexo pela qualidade de seu trabalho, pela força de sua entrega, tão honesto em cada lágrima, cada sorriso. E quando ambos contracenam é mágico, acreditamos naquela relação, sentimos o amor existente ali e a preocupação e carinho que um tem pelo outro. Por isso é, também, muito admirável seu texto, inspirado e bastante poético, ele nos conduz através da espontaneidade e simplicidade de um menino e tem a característica milagrosa de construir uma narrativa que emociona da primeira à última cena, não segurando seu público para um ápice final, é uma obra inteiramente comovente, angustiante, que tem o poder de nos fazer chorar em diversas passagens e sem precisar ser melodramática. E nestes instantes, a fantástica trilha sonora composta por Stephen Rennicks, tem papel fundamental, entrando nos momentos certos e os engrandecendo. 

Apesar do trailer revelar muita coisa, acredito que ele não estrague a grande experiência que é vê-lo, que é, aliás, tão bom quanto prometia ser. Digo, também, que é difícil se sentir indiferente diante da jornada de Joy e Jack, o filme inteiro nos traz algo, somos lançados a um turbilhão de sentimentos, de sensações, ficamos presos ao que ele nos apresenta, fascinados por cada detalhe. É tudo muito forte, intenso e profundo, tão verdadeiro e tão gostoso de ver que é impossível não se sentir tocado e de certa forma, inspirado por suas ideias, por seus diálogos e principalmente inspirado por este incrível protagonista e neste seu belo encontro com a vida, ficamos constantemente sensibilizados em como tudo aquilo que é tão banal em nossa rotina são vistas por Jack como sendo uma grande descoberta, um evento a ser celebrado. Um filme belíssimo, raro, que emociona, que cativa e que, sem sombra de dúvida, merece um espaço guardado na memória. 

NOTA: 10





País de origem: EUA
Duração: 117 minutos
Distribuidor: Universal Pictures
Diretor: Lenny Abrahamson
Roteiro: Emma Donoghue
Elenco: Jacob Tremblay, Brie Larson, Joan Allen, William H.Macy, Sean Bridgers, Tom McCamus




2 comentários:

  1. Belas palavras, conocordo com todas, o filme é singular dentre muitos que eu ja vi na vida.

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    1. Obrigado pelo comentário Kleber! Concordo contigo também, saí da sessão com uma sensação muito boa e sei que não esquecerei dele tão cedo.

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