quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Crítica: Cavaleiro de Copas (Knight of Cups, 2015)

Quando a beleza e superficialidade coexistem.

por Fernando Labanca

Lançado oficialmente no Festival de Berlim no qual ainda concorreu ao prêmio de Melhor Filme, "Cavaleiro de Copas" marca mais um passo atrás na carreira de Terrence Malick, que se distancia cada vez mais do primor de seu próprio modo de fazer cinema. Essa é a prova concreta de que até mesmo para Malick é difícil ser Malick, que tenta ao longo de tortuosos 120 minutos, reprisar seus próprios acertos. Não consegue e acaba oferecendo uma obra oca, que chega com a pretensão de expressar muita coisa, mas nada diz, nada faz, caminhando em um ciclo sem fim de narrações em off e personagens superficiais, que trilham melancólicos proferindo palavras belas rumo a lugar algum.

A proposta de Malick aqui é confusa, ainda que bem intencionada. Sem ter escrito um roteiro, apenas diálogos aleatórios para seus atores, não permitiu que nem mesmo eles soubessem do que se tratava a obra. Christian Bale, que encara o protagonista, não diz nenhuma palavra em cena e já confessou que ao longo das gravações não sabia sua função ali. Logo, "Cavaleiro de Copas" é uma junção de várias sequências que não possuem lógica ou um arco narrativo e são unidas pelas narrações dos indivíduos ali mostrados. Dessa forma, são inúmeros cortes, cenas perdidas e vozes sussurrando frases como "diz para montanhas Perdoe-me" ou "O que nós somos agora?", buscando erroneamente dar alguma profundidade a tudo aquilo. Pura pretensão de Malick, que faz uma bela poesia, mas esquece de todo o resto, inclusive o próprio público.


Todos os personagens entram em cena como se carregassem todo o peso do mundo. São seres tristes, mal compreendidos. Christian Bale, que não tem nada para fazer em cena além de andar em desertos, se torna irritante e acaba sendo difícil se envolver com sua confusa jornada. Cate Blanchett, Natalie Portman e Imogen Poots entregam performances sólidas e admiráveis, mesmo que fiquem pouco tempo em cena. É uma pena que nem elas, que tão talentosas, conseguiram tirar algum proveito disso. Malick ainda erra por buscar referências em seus outros trabalhos, trazendo questões como conflitos entre família, fé e existencialismo, onde tudo soa repetitivo, nada do que diz é novidade e peca ainda mais por não conseguir sustentar seus temas, entregando um texto enfadonho, preguiçoso, que de longe parece belo, mas é falso, é arrogante.

O grande destaque aqui é a fotografia, marcando mais uma parceria do cineasta com o premiado Emmanuel Lubezki. De fato, apesar da superficialidade da obra, todas as sequências são visualmente poderosas. Existe beleza em cada frame e Malick, mestre em manipular imagens, não deixa de ainda surpreender como diretor. Todos os cortes e planos são exuberantes e é uma pena que não exista uma base para justifica-las. Sou fã do cinema de Terrence Malick e espero que ele se recupere, que retorne e consiga utilizar suas artimanhas em produtos mais próximos do que fazia antigamente, mais verdadeiro, mais consciente. "Knights of Cups" é uma farsa, que se diz profundo quando é superficial, quando é vazio, sem alma.

NOTA: 5



País de origem: EUA
Duração: 118 minutos
Distribuidor: -
Diretor: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Christian Bale, Wes Bentley, Natalie Portman, Freida Pinto, Imogen Poots, Teresa Palmer, Cate Blanchett, Antonio Banderas, Isabel Lucas, Jason Clarke




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